sábado, janeiro 06, 2007

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há uma confederação de almas em nós. E vai-se afirmando uma ou outra conforme pasa o tempo. Há tempos de mudança de hegemonia. São tempos de crisis. Mas termina por se afirmar como hegemónica uma frente as outras, mesmo embora as outras não desapareçam. Mas, entre todas,somos cada um de nós, cada um. (Cf. Afirma Pereira).

No meu ponto de vista, Pessoa, emprega esta ideia, criando um heterónimo para cada uma das suas almas. E entra no jogo poético e metafísico da definição das almas, da alma comum do mundo (cf. Jung) e de nós próprios entre todas elas, em cada uma das nossas vidas sucesivas.

Um abraço,

L.F.

Pedro Horta disse...

Há muito k ñ emergia perante os meus olhos outras almas k valham vasculhar em palavras... sentia-me só num mundo de vocábulos aprisionado numa cíclica auto-crítica! Mas agora k absorvi um pouco de ti sinto k vale a pena cada teclar k primo por impulso, porke sei k só ñ estou, e k me cruzo no teu caminho pelo caminho k vou.