sábado, janeiro 27, 2007

Desculpa se não percebi...

Como posso esperar que me respondam se nunca te respondi.

Escreveste desesperado cada momento de amor que viveste, cada um em que sofreste e sofreste em cada um dos que viveste.

Suavizavas com tinta as coisas do coração, esvaziando-o a cada letra, deitando nelas a paixão que pesa tanto dentro de nós… e pesa porque é sozinha… não tem onde se agarrar e procurava nas letras as amarras para se salvar…

E de braços no ar gritavam para mim, as palavras de sentimentos sem fim, que eu nunca correspondi… porque achava em mim prepotente que o amor basta sentir, sabendo hoje na pele o que é amar sem sorrir… sorrir de ver chegar um retorno que só existe ali…

Mas como posso esperar se nunca te respondi.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Se importasse o que sinto, como me sentiria?

E assim me sinto jogada
A um vazio imenso
Amar sem ser amada
Sofrimento intenso

Mas aqui estou jogada
Porque quem o sente sou eu
Sou eu que amo e nada…
Problema que em mim morreu

E se já não existe assim
Como problema em mim
Existe crescente em dor
Porque amo sozinha este amor

E assim me sinto jogada
Sem poder fazer nada
Esperando desesperada
Esperando por ser amada

sábado, janeiro 06, 2007

Fernando Pessoa

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Sophia de Mello Breyner Andresen














Como é estranha a minha liberdade
As coisas deixam-me passar
Abre alas de vazio para que eu passe
Como é estranho viver sem alimento
Sem que nada em nós precise ou gaste
Como é estranho não saber


in
No Tempo Dividido