Quando partiste, meu amor, deixaste aqui o que me parecia muito pouco.
Habituada ao abraço de um corpo forte com mãos grandes, tudo parecia triste e vazio.
Triste e pequenina, olhei para as mãos vazias que já não apertavam as tuas neste caminhar, encontrei nelas algo lindo que podia semear.
Mas a semente que deixaste, pequena e solitária, é hoje árvore grande com bastante para nos dar.
Alimenta-me o corpo, eleva-me a alma, ajuda os que ao meu lado têm fome. Cresce com ramos fortes em direcção ao céu, cobre-se de noite com as estrelas, bebe, sempre com muita sede, o ar que acaricia as suas folhas, o ar que o universo sempre, mesmo sempre, lhe concede.
Invade a terra sem medo, e menos medo mais força numa terra fértil que é esta, a do coração. Com raízes profundas de amor, alimenta os seus frutos com toda a força que tem. Quanto mais fome de amor, mais lhe peço alimento, e quantos mais lhe peço mais me dá o que vem. O que tem é seu e meu, e o que é meu é seu também, porque no fundo é tudo teu, porque foi de ti que nasceu.
O tronco rugoso já me ouviu chorar. Mas a cada suspiro que dou, aprofundam-se as raízes, os seus braços abrem-se em cruz, e a cada suspiro meu, cada folha abraça o céu, e pede a Deus nosso pai, todo o pedaço que é seu.
Cada folha fica gigante, e a árvore elefante respira de grande emoção, só pode ser grande se assim for, e cada folhinha fizer aquilo que lhe pertence. Limpa-me as lágrimas dos olhos e acaricia-me o rosto, deixando-me calma e alegre… quem pode chorar triste quando percebe aquilo que o universo lhe deu, que aquilo que me deixaste pode dar todo este fruto que é meu …
Não me atrevo a pedir mais, do que aquilo que alguém me quiser dar porque pensando que ficava com quase nada, nasceu em mim, o que de melhor se pode esperar…
Imagem André Galrito in Olhares
3 comentários:
O André tem muito jeito pata a fotografia!
Bom fim-de-semana!
Queria dizer "para" e não "pata":)
Um texto lindíssimo que é por si só uma completa ode ao amor. Beijos para ti
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